Se tudo é performance, onde fica o que é real?


Ser autêntico sempre foi uma questão de identidade. Mas na era digital, onde a exposição se tornou regra, essa identidade parece cada vez mais um conceito moldável, ajustável, pronto para se encaixar em novas tendências.

Afinal, o que significa ser autêntico quando estamos o tempo todo sendo impactados pelo que é aceito, pelo que performa bem, pelo que conquista mais olhares?

Para mim, autenticidade é saber quem sou, estar bem resolvida com isso e enxergar em mim qualidades que podem inspirar outras pessoas. Mas essa não é uma resposta única.

Ser autêntico não significa ser o mesmo o tempo todo. A gente muda, aprende, cresce, e tudo isso reflete na forma como nos expressamos. O problema começa quando, ao invés de evoluirmos dentro da nossa essência, começamos a moldá-la para nos encaixar em um padrão externo.

E as redes sociais, por mais incríveis que sejam, são um gatilho constante para isso.

a linha tênue entre se mostrar e se moldar

Sem perceber, podemos nos ajustar, nos podar, nos diminuir ou até exagerar para caber dentro de um novo padrão, de uma tendência que nem sequer existia ontem, mas que hoje já virou “regra”.

Quantas vezes uma estética dominou o digital e, de repente, parecia que todo mundo tinha que ser daquela forma? O cabelo, o corpo, a forma de se vestir, até o jeito de falar… É como se, de tempos em tempos, houvesse um novo molde a ser preenchido.

A boa notícia é que tenho visto um movimento diferente crescendo. A realidade e a autenticidade das pessoas comuns começaram a ganhar força. Perfis que mostram o dia a dia sem filtros, a rotina sem glamour, as dificuldades junto com as conquistas. E espero, de coração, que isso se torne o novo normal.

O peso de querer se encaixar (e o alívio de não precisar mais)

Já me senti assim. Principalmente na adolescência.

Havia um modelo a seguir, e eu acreditava que, se não me encaixasse nele, não teria espaço. Escondia minha identidade para adotar a identidade aceita naquele momento.

Hoje, olhando para trás, percebo o quanto isso me afastou de mim mesma. Mas entendo também que era um reflexo do que a sociedade incentivava. E ainda incentiva, mas de uma forma mais sutil.

A diferença é que agora começamos a perceber. O superficial já não convence como antes. As pessoas identificam quando estão sendo influenciadas, quando um comportamento é forçado, quando algo é montado para parecer “natural”.

Não vivemos em um mundo perfeito – e talvez nunca cheguemos lá –, mas estamos caminhando para um entendimento mais claro sobre o que é real e o que é apenas aparência.

todo mundo quer parecer bem, mas até que ponto?

É natural querer mostrar o melhor de si. A internet virou um escape para construir essa narrativa. E não estou dizendo que é um problema selecionar os melhores momentos para postar, mas existe uma linha tênue entre mostrar sua melhor versão e criar uma versão que não existe.

Já vi tantas histórias de pessoas que são uma coisa online e outra no offline… E, não surpreendentemente, o que elas dizem ser ou fazer no digital é, na verdade, o que sonham em ser ou ter. A questão é: até onde isso é só uma curadoria inofensiva e quando se torna um problema?

a identificação vem quando a gente se enxerga no outro

Acho que tudo começa nos detalhes.

Os filtros (ou a falta deles). A forma como a pessoa mostra a realidade do dia a dia, o acordar cedo, o café feito na pressa, o trabalho, os momentos de descanso. A vida real, com escolhas, desafios, renúncias. A identificação é instantânea quando conseguimos ver alguém e pensar: poderia ser eu.

ser ou parecer? A escolha está em cada um

Eu sei que minha presença digital não reflete tudo o que sou. Existem crenças, anseios, momentos que não exponho.

Ainda tenho uma visão de que nem tudo precisa ser postado. Algumas coisas guardo para mim, para meu álbum de memórias pessoal. Sei que posso mudar essa visão ao longo do tempo, mas se um dia eu decidir compartilhar mais, que seja com propósito.

Porque no fim das contas…

Autenticidade não é sobre mostrar tudo. É sobre não precisar inventar nada.

Atenciosamente, Lari.

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